terça-feira, 16 de março de 2010

Qual o sentido darua?


Ela não é determinada apenaspor direções ou palavras, mas também por sentimentos e experiências. Por issoJoão do Rio afirma: “A rua também tem alma”.


Para se compreender a rua deve-se primeiramente ser livrecomo ela. Saber planar sobre todas as suas formas, encontrar o que precisa emtodos os seus lados e compartilhar da ordem que ela impõe. Na rua, a ordem édemocrática, feita pelos próprios transeuntes.


A rua é transformadora de linguagens. É nela que os sentidose significados se adéquam aos contextos que mudam com o tempo, percebidos pelopróprio desenvolvimento da rua.A comunicação é livre, por exemplo, naspichações no muro são uma forma de expressão livre. A rua é sinônimo deliberdade, por isso toda criança quer logo ir para a rua. Pois lá é onde elaencontrará a sua individualidade, dentro do universo daquela rua. “Conseguemodificar o homem insensivelmente e fazê-lo seu perpétuo escravo delirante”.


A rua está no DNA do homem e o homem está em seu DNA, pois osuor é a força da sua criação. A rua nasce naturalmente da necessidade da vidadas pessoas. Por isso estão tão ligadas, não é mero antropomorfismo. Ela tempersonalidade, individualidade própria e como uma pessoa tem espírito. É como aimpressão digital da cidade, vista de cima, sua visualidade gráfica ésemelhante e em sua essência tem essa relação pessoal, já que é vista pordiferentes olhos, pontos de vista, como um caleidoscópio.


A rua é generosa, ingenuamente oferece infinitaspossibilidades. A rua é democrática e ao mesmo tempo antropológica e socialmenteclassificável, nela existem estereótipos identificáveis em qualquer cidade. Adiversidade social foi providenciada pelas ruas que levam uns homens aoencontro de outros, provocando a miscigenação tão presente nas nossas ruas,como na Rua do Ouvidor. A rua é como uma escola que ensina gostos, costumes e atéjeitos de falar. Cada uma tem o seu perfil. Os exemplos do texto de João são detempos passados, mas podemos ver o mesmo hoje em ruas como a Dias Ferreira e aRua Alice, por exemplo. “Assim como não há duas pessoas que o riso seja omesmo, assim também não há duas ruas que o riso seja o mesmo”, cada uma tem seucontexto, seu espírito, sua alma.


Até hoje vemos exemplos das pequenas profissões que João citacomo o vassoureiro, o comprador de papelão, ferro velho, etc; E até hoje elassofrem com as intempéries como a chuva e as inundações, e seus habitantes devemsaber driblar isso. O carioca sabe. Vimos um exemplo no vídeo veiculado nainternet na semana passada de um surfista atravessando a enchente de pranchapelo Baixo Gávea. Costumes também permanecem, como o Carnaval, onde a rua setorna o palco para a fantasia de todos. Algumas ruas continuam com a mesmafunção, como a Rua Uruguaiana que até hoje vende material,  jóias e bugigangas.


Outra coisa que continua são os mendigos que a habitam comosombras. Até hoje não sabemos se devemos dar esmola ou não, pois não sabemosaté onde vai a verdade e até onde chega a malandragem. Os criminosos tambémcontinuam pelas ruas entre uma saída e outra da cadeia. Mas outros tipos sumiramcomo os ciganos.  O contexto constantementemutante faz que seja impossível definir a moralidade que depende do ponto devista em relação à sua necessidade, como diz João do Rio. Assim como a rua, édifícil de definir.


Criação: Manoela Bowles


4 comentários:

  1. Manoela, excelente reflexão sobre a temática de João. Uma escrita leve e ao mesmo tempo capaz de discutir temas complexos, tudo dentro de um ambiente digital. Acho que você conseguiu perceber o cerne do programa. Parabéns.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Muito obrigada pela sua apreciação, o texto do João me inspirou bastante.

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