Manhã:
a luz do sol se inclina sobre a cidade com lenta velocidade
na esquina cuidado, garoto que o carro te joga longe!
monge, o pássaro espia: do alto do poste, como deve ser belo o dia
com a luz se esticando pelas ruas, se espreguiçando até virar sombra quando já passa do meio-dia.
Longe,
o trem tem pressa, sua prece contra os trilhos cortando a tarde que arde vermelha e aos poucos se esconde.
No beco, um bebum arreganha a gengiva,
e avisa: ?A noite está viva mas sua fome é sem dente,
se quiser um sorriso, melhor pedir a uma estrela cadente!?
Mais adiante, finalmente, a madrugada:
desvairada, a brisa roça o muro e se aproveita do escuro para fugir em disparada cobrindo com folhas secas a rua nua que ora penetro.
Na esquina, um pobre diabo me ilumina com seus olhos: ?Vá de retro! falta muito para o novo dia e toda essa escuridão é boa; é nela que eu me perco à toa pela cidade sonolenta
enquanto a madrugada, deusa de perdição, se arrasta lenta em sua escuridão sem luas e nela me sinto eterno.?
O pobre diabo, perdido em seu pequeno inferno de luz solitária
não percebe que a escuridão pode ser a companheira mais solidária. |
terça-feira, 16 de março de 2010
Cidade solidária
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Diego, gostei muito. Um poema que é pura montagem cinematográfica. Você nos propõe inclusive cenas noite, dia, personagens, diálogos e conflitos. Ótima relação personagem/conflito/destino. Um ótimo ponto de partida para o filme.
ResponderExcluirMuito bonito!
ResponderExcluirInteressante, criativo e de muito bom gosto.
Parabéns.
Muito bonito mesmo. Gostei da "prece do trem", me lembra as repetições das novenas e terços, enquanto que o trem faz tchuc tchuc thuc repetidamente.
ResponderExcluirDiego tem um talento pra provocar imagens inusitadas. Acho imprescindível para um cinema de qualidade!
ResponderExcluirTexto delícia.
ResponderExcluirConsigo ver as cenas.
Parabéns, Diego. Parabéns.
Que interessante... as imagens das cenas se formam facilmente na mente...
ResponderExcluirUma habilidade deveras interessante para quem pretende construir algo que será transposto para o visual.
Parabéns pelo texto!
Incrivel a sua facilidade de, com poucas palavras, montar um 'cenário' cheio de detalhes. Direto e claro. Adorei. Parabéns!
ResponderExcluirSempre o diabo e seus planos egocentricos
ResponderExcluirSHOW
ResponderExcluiradorei o uso de rimas nao simetricas!! deu um ar de continuidade do texto!! parabens diego!
ResponderExcluirTem uma pontinha de comicidade escondida em algum lugar que me fez gostar muito do seu poema. Parabéns.
ResponderExcluirGosto muito das palavras finais: "não percebe que a escuridão, pode ser a companheira mais solidária. "
ResponderExcluirViajei. Consegui ver as cenas e sentir as emoções. Que habilidade em dizer tanto de modo tão simples!
ResponderExcluirDeverias filmar um curta. Vc tem talento para aescrita e imaginação. Gostei muito!
ResponderExcluirÉ disso que precisamos: elevar a qualidade textual tanto do nosso cinema quanto das outras mídias, principalmente tratando-se de blogues que, por ser a internet um território 'livre', as pessoas estão exagerando (ou usando mal) no despojamento, perderam o filtro. E, mais uma vez, o Brasil está deteriorando um de seus maiores patrimônio, seu idioma.
ResponderExcluirBeleza! Com uma certa extensão para expressar as imagens, forma-se a sequência dinâmica, necessária à aproximação da linguagem cinematográfica. Gerou-se a continuidade que traz a expectativa de ação e conclusão. _Abraço.
ResponderExcluirA luz, a tarde, o trem...
ResponderExcluirGostei principalmente da possibilidade de visualizar nitidamente a paisagem, os diálogos, os acontecidos.
Não estava enganado quando disse que você era um rapaz de talento, Dieguito.