Quando entrei no velho cortiço, tentei me animar e sorrir, mas as lembranças me foram embora, o lugar já não reconhecia mais. Foram noites e mais noites passadas em quartos e mais quartos. Neste cortiço, foi lá minha primeira vez. Medo. Muito medo, tremia de nervoso.
Ela se aproximou, aos meus olhos, linda num belo vestido. Seria linda pelo vestido? Não, mas sim pela doçura de seu olhar e ao me embriagar com seu perfume. Flutuo pela sala. Subo as escadas. O barulho que parecia de uma festa, já não escuto mais. Antes, só havia o som da banda de chorinho: o piano, a flauta, o pandeiro, a viola e o bandolim. Havia um poeta, subia na mesa e cantava seus versos, todos bêbados a olhar e sorrir.
Já não existem mais os quartos, a escada, as mesas, a música e muito menos a poesia. O perfume , que sempre inspiraram paixões, se foram na lembrança de palavras e pensamentos que pediam: - “me deseje, me deseje”.
Hoje me deparo com o lugar, decadente. Daquele palácio só sobrou uma de suas paredes. Resolvo sair. Cruzo com uma senhora, quando jovem parecia ser linda, tem nos olhos uma triste doçura. Por um instante pensei reconhecer aquele olhar.
Atravesso o portão de saída, o passeio pelo tempo, acabou, volto a minha realidade, deixando para trás o perfume do meu passado.
CRIAÇÃO: Pedro Arburuas
Adorei o conto. E ver a foto do cortiço daquela época, hoje em dia, deixa a imaginação voar...
ResponderExcluirBeijosss
Inês