-Eu odeio ser atropelado. - Pensou Carlos ao se levantar da calçada em frente ao seu prédio em Copacabana. Limpou sua já surrada camisa do AC/DC que ele comprou há muito tempo atrás na Galeria do Rock e olhou para o garoto que o atropelara com sua bicicleta, com um quase ódio. O menino, que sentado no chão, sentia as dores de um joelho cortado nem se deu conta de que o homem que derrubara, era bem mais velho que ele, coisa de uns quarenta anos. Carlos ao ver a situação do menino, sentiu algo que há muito tempo não sentia e, esquecendo suas próprias dores foi lhe oferecer ajuda. -Vem, você precisa lavar isso. -Disse o velhote para o menino, que respondeu que estava bem e precisava ir logo para casa. - Você me deve um pedido de desculpas e estou cobrando dessa forma. Vem, vamos lavar isso lá em casa. Não tem perigo não, eu não sou a bruxa má do oeste.- O menino meio que sorriu e segurou na mão calejada de Carlos. O menino se surpreendeu ao entrar no apartamento. Não era muito grande, mas parecia muito menor com tanta bagunça. E tinha um cheiro estranho. Mas o que chamava atenção eram as paredes lotadas e pôsteres de bandas e vários discos de vinil por todos os lados. O garoto parou seu olhar em um pôster dos Beatles. Carlos que tinha ido lá dentro pegar curativo e tal pensou que talvez seja a única banda que ele conhece dali. E com todo o cuidado, meio que como um avô cuidando do neto, o velhote limpou e colocou remédio no ferimento do menino. E logo ele se viu como um professor, dando aulas sobre rock´n roll para o menino. Sentiu uma estranha sensação de preenchimento enquanto explicava a importância de um Jimi Hendrix. E quando colocou para tocar "My Generation" do The Who lembrou-se que aquela era a sua canção e que realmente desejara morrer antes de ficar velho. Antes de perder sua esposa. De se distanciar dos filhos, dos amigos. De ser atropelado... pela vida. -Eu odeio ser atropelado!
CRIAÇÃO: DIEGO TAVARES
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